Saberes e fazeres – antes, agora e depois

Saberes e fazeres – antes, agora e depois


Participando do Curso de Folclore 2023 – Folclore e Tecnologias, promovido pela Comissão Gaúcha de Folclore foi proposto o tema: Como fomentar os saberes e fazeres populares na atual sociedade tecnológica em que estamos inseridos? Como professora de história e geografia, tradicionalista e folclorista e sempre estudante confesso que escrever sobre essa temática é um regalo para alma. Apaixonada por esses temas onde sempre há o que aprender e ensinar.


Em minhas experiências escolares ou no CTG vivenciei e vivencio na prática, cotidianamente, o desafio de os estudantes (re)conhecerem seus/nossos folclores e tradições. Nem consigo ministrar uma aula, seja ela sobre qualquer conteúdo, sem falar nessa temática. Tento mostrar que assim como todas as matérias são interligadas, nossos saberes e fazeres antigos ou novos também são. Para compreender como uma lenda com uma princesa moura (Salamanca do Jarau) veio parar na letra do hino tradicionalista é preciso contextualizar a história desde a península ibérica. Ou para entender o porquê de o Negrinho do Pastoreio ser criança e ter que trabalhar (pergunta feita pelas crianças quando conhecem a lenda) é necessário explicar a escravização dos povos africanos.


No livro a Danação do Objeto (2004, p.144) Francisco Ramos diz: “Como falam os antropólogos, torna-se necessário estranhar o normal, perguntar-se sobre o cotidiano e suas banalidades, questionar-se sobre o óbvio. Não há conhecimento sem espanto”. Essa curiosidade é essencial para um aprendizado significativo. E como estimular esse interesse pelo que já está aí? Como fazer para que a investigação de onde vem o hábito do chimarrão, ou de onde vem a cuia de porongo seja tão interessante quanto jogar vídeo game ou navegar nas redes sociais? Sugiro uma sociedade ilimitada, nos aliando às tecnologias conseguiremos sensibilizar esse estudante e incentivá-lo a buscar suas respostas, tornando-o protagonista do seu saber e do seu fazer.


Compartilho aqui alguns experimentos exitosos, para além dos do dia a dia, que tive a oportunidade de por em prática, alguns com meus alunos, outros com as prendas e peões, e outros ainda com minha família.
Em 2020 devido a pandemia de covid-19 e o isolamento social, durante as aulas remotas, solicitamos para cada turma, de uma das escolas em que atuava, de educação infantil e ensino fundamental, do maternal ao 5o ano, contar uma lenda do nosso folclore brasileiro. A professora titular escolheu e dividiu as partes entre os alunos, cada um enviou um vídeo com sua parte onde, depois de editado, contava a lenda inteira. Os vídeos foram divulgados
nas redes sociais da escola e muito assistidos.
No decorrer de 2021, em que vivíamos entre idas e vindas de aulas presenciais e remotas, lançamos o Museu do Folclore Virtual de Cacequi, em que quatro turmas, de 6o ao 9o ano, de duas escolas distintas se juntaram virtualmente para produção do acervo do museu. O combinado era tentar não repetir as diversas lendas, parlendas, trava-línguas, danças, pratos típicos e brinquedos e brincadeiras. Junto a isso promovemos um concurso do logotipo do museu em que todos puderam participar e depois votar no escolhido. Esse projeto contou com o apoio interdisciplinar das professoras de artes e língua portuguesa.


Em outro colégio desenvolvemos no mesmo ano, com o ensino fundamental 2, uma mostra folclórica em que os estudantes dos anos finais apresentaram as mesmas “categorias” que foram propostas para o museu virtual, para os colegas dos anos infantil e inicial. Presencialmente podemos perceber o encanto e curiosidade dos alunos menores e a animação de ensinar dos maiores.
Em todas as atividades notamos a participação das famílias, seja contando seus saberes e fazeres ou ajudando na confecção dos exercícios e, principalmente, divulgando com orgulho em suas redes sociais os temas de casa dos filhos.
Enquanto essas atividades eram pensadas e planejadas meus três filhos, que também são estudantes, acompanharam todas as etapas, Joaquim o caçula, com quatro anos na época já gostava de lendas e se tornou especialista em folclore brasileiro se auto intitulando folclorista, para orgulho dos pais. A pedido de sua professora apresentou uma fala sobre a temática para os colegas da creche. Por conta dessa atividade Joaquim descobriu vários jogos para celular sobre o folclore que pude compartilhar com meus alunos também.


Também por conta do isolamento social de 2020 e da dificuldade de encontrar, mesmo na internet, alguns conteúdos para as provas de prendas e peões, as cirandas e os entreveros, decidimos, marido e eu, em casa criar um blog para divulgar os materiais que tínhamos disponíveis. Desde então seguimos na divulgação de mais materiais, eventos e artigos de opinião no blog Estudando no Galpão, agora nosso quarto filho. Sentimos a necessidade do blog ter rede sociais para maior alcance e, mesmo com pouco tempo para nos dedicarmos a ele o blog vem crescendo em acessos.


Nessas experiências utilizamos os saberes e fazeres de ontem, de hoje e abrindo portas para os que ainda virão. A tecnologia aliada ao nosso folclore e as nossas tradições tem o poder de nos auxiliar a manter vivas nossas tradições, estimulando as gerações que vem por aí com a mesma fascinação que temos.


O encanto do saber é contagioso!

Deixe um comentário

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora